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O Rio 2016 e as mulheres. Sexo frágil?

  • Daiane Muniz
  • 23 de ago. de 2016
  • 4 min de leitura

chloe logarzo feminista

O Comitê Olímpico Internacional – COI levou a sério a disputa pelo pódio da igualdade nos jogos do Rio-2016. As Olimpíadas no Brasil teve a maior participação feminina da história: entre os 11.544 atletas olímpicos de mais de 200 países disputando 39 modalidades, 45% são mulheres.

Nunca se teve tão próximo da equidade no esporte, mesmo que apenas em número de participação. Motivo de celebração, já que o evento é uma fonte copiosa de símbolos que ilustram algumas teorias sociais. No quesito diversidade sexual, o maior número de atletas assumidamente lésbicas e gays da história dos jogos, e com o dobro do número computado em Londres, pode ser um sinal positivo de maior aceitação social. A primeira participação das mulheres nos jogos foi em Paris no ano de 1900, na época fazendo parte de 2,2% dos atletas, eram apenas 22 mulheres. Entre críticas e questionamentos acerca do legado, os números são um indicativo da luta pela igualdade, mas vale prestar atenção na ênfase dada as conquistas de homens em detrimento das conquistas de mulheres. No jogo que levou a seleção feminina do Brasil de futebol às semifinais, Chloe Logarzo meio campista da Austrália, fez um gesto em campo que contribuiu com o coro da Olimpíada das mulheres. Quer tenha sido por reconhecimento ou por pudor, a atleta posicionou as mãos espalmadas e unidas pelas pontas dos dedos mais ou menos na altura do útero, provavelmente representando uma vagina.

Mas o que poderia ter sido descrito como uma manifestação do empoderamento feminino, foi imediatamente ressignificado como o genérico “coração”; um outro símbolo, bem menos contestado.

Diante das esdrúxulas comparações que a mídia insiste em fazer entre atletas homens e mulheres, a ginasta Simone Biles dos Estados Unidos dona de 5 medalhas no Rio, 4 delas de ouro, declarou: “ Eu não sou o próximo Usain Bolt ou Michael Phelps. Sou a primeira Simone Biles”.

Campeã no Rio 2016, a seleção feminina de vôlei da China tinha algo que nenhuma das outras seleções da Olimpíada tinha: uma técnica mulher Lang Ping levou a equipe chinesa até o ouro olímpico eliminando o Brasil nas quartas de finais. Ela diz não se incomodar, afirma que, apesar de ser a única, outras poderiam estar à frente das seleções nacionais.

Ainda assim, diz esperar que a situação mude nos próximos anos: ”Para começar, eu sou apaixonada pelo esporte. Passei toda a minha vida no vôlei. Segundo, eu acredito que há várias mulheres capazes de ocupar a posição de técnica de uma grande equipe ou seleção. São várias explicações para isso. Muitas ex-jogadoras desistem de seguir carreira para ficar com a família. Mas são várias que poderiam seguir como técnicas. Espero que isso mude nos próximos anos. “

Também temos o nosso símbolo, a nossa rainha, a mulher que derrubou Pelé do trono do futebol brasileiro. A jogadora Marta liderou a seleção em duas conquistas de prata, em Atenas, a primeira da história da nossa seleção, e quatro anos mais tarde em Pequim, na China. A marcante carreira de Marta, uma das responsáveis por elevar o nível do futebol entre as mulheres, é significativa não só emocionalmente, mas em números. Desde dezembro do ano passado, ela é a maior artilheira com a camisa da seleção batendo ninguém menos do que Pelé. São 98 gols dela ante 95 gols de Edson Arantes do Nascimento. Marta é também a única atleta do futebol a vencer o prêmio de Melhor Jogadora do Ano, por cinco anos consecutivos (2006, 2007, 2008, 2009, 2010). E sim, também já deixou Lionel Messi para trás.

Não é difícil enxergar no futebol aquilo que há de bom e o que há de pior na sociedade. Seria, portanto, pouco provável imaginar que as mulheres teriam espaço fácil para crescer justamente nesse esporte marcadamente como machista e muitas vezes homofóbico.

"Em todas essas equipes, jogava com meninos. Era a única garota entre eles. Eu sofri muito preconceito, ouvi muita besteira. Alguns diziam que eu não podia jogar por ser mulher. Outros falavam que eu era macho. Isso machucava muito. Eu era criança e ouvia aquilo tudo. Mas eles me aturavam porque, dentro de campo, eu fazia a diferença."

Vale ressaltar o que diz sobre feminismo em questão descrito, um dos filósofos mais respeitados do Brasil, Mario Sergio Cortella explica de maneira didática o que de fato é o feminismo: “Machismo significa a concepção de que mulheres são subordinadas aos homens. O feminismo, por sua vez, não é o contrário de machismo. O feminismo não supõe que homens são subordinados às mulheres, mas que homens e mulheres são iguais.” Para além das inegáveis diferenças biológicas entre os dois sexos, as definições de masculino e feminino estão muito mais ligadas a costumes sociais do que à natureza humana. O recorde na participação feminina nos Jogos Olímpicos Rio 2016, e a garra e força apresentada por elas, ainda não colocaram mulheres e homens lado a lado no pódio da igualdade, porém deu outro sentido a velha frase: “jogar feito mulherzinha”.

 
 
 

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